21/05/2018 MP RO Livre ATITUDE GLOBAL

Pesquisadores alertam para redução de 74% na captura de dourada, após usinas do Madeira

Pesca

 

Pesquisadores alertam para redução de 74% na captura de dourada, após usinas do Madeira

 

As alterações no sistema de pesca na bacia do rio Madeira, a partir da construção das hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau, as consequências para os pescadores e as propostas para a redução de tais impactos estão sendo discutidas durante o Seminário Internacional Brasil, Peru, Bolívia, promovido pelo Ministério Público de Rondônia, por meio do Centro de Apoio Operacional do Meio Ambiente (CAOP-MA), com a presença de representantes de universidades, órgãos públicos, pescadores e pesquisadores do Brasil e de outros países. Aberto nesta segunda-feira (21/05), no edifício-sede do MP, o evento tem previsão de encerramento para esta terça (22/05).

Uma das informações de grande relevo, divulgada no seminário, refere-se à redução na captura de várias espécies de peixes na região, em especial a dourada, bagre tradicionalmente consumido pela população porto-velhense. De acordo com a Professora Doutora da Universidade Federal de Rondônia (Unir), Carolina Rodrigues Dória, a pesca desse tipo de peixe diminuiu drasticamente nos últimos anos.  “É possível observar uma queda na produção de peixes na região, a partir de 2009, e um aumento significativo no preço do pescado. A dourada, por exemplo, teve a captura reduzida em 74%, após a implementação das barragens, e seu preço foi elevado em quase três vezes”, afirmou.

A professora também alertou para o aumento da presença do pirarucu na região, um peixe que vem do Peru e da Bolívia e que já chegou ao rio Mamoré. Segundo a pesquisadora, nos últimos dez anos, a produção do pirarucu aumentou de 1% para 40% em Guajará-Mirim e essa população, conforme frisou, já começa a prejudicar as espécies nativas. “Temos que pensar sobre isso em conjunto com a Bolívia”, afirmou, referindo-se a estratégias de manejo.

Carolina Dória finalizou sua participação, falando da grande vulnerabilidade do sistema de pesca da bacia do rio Madeira, destacando a dependência dos pescadores com relação à atividade; a fragilidade dos arranjos entre as instituições nacionais e internacionais, e a ausência do Estado, entre outras questões. Como proposta de melhoria e definição de ações futuras, a pesquisadora citou a necessidade de empoderar e capacitar pescadores; de garantir a participação desses trabalhadores; de investigar os impactos cumulativos dos empreendimentos e, ainda, a importância de criar e implementar o comitê de gestão de bacias trinacional.

Abertura

O Seminário Internacional Brasil, Peru, Bolívia - Desafios Nacionais e Internacionais de Gestão dos Recursos Pesqueiros na bacia do rio Madeira tem como propósito promover o diálogo entre os representantes de diversas instituições e órgãos governamentais sobre a gestão dos recursos pesqueiros da bacia do rio Madeira, frente aos impactos de empreendimentos hidrelétricos.

Ao fazer a abertura do evento, o Procurador-Geral de Justiça, Airton Pedro Marin Filho, falou sobre a importância do Ministério Público de Rondônia fomentar a interlocução franca entre os envolvidos no processo. “Muito embora entendamos a necessidade de expansão da capacidade energética do país, não há como deixar de lado a preocupação com o meio ambiente e com a manutenção das atividades de populações tradicionais, como pescadores, agricultores extrativistas, que muito contribuem com o desenvolvimento do Estado de Rondônia”, afirmou.


Experiências Peru/Bolívia e Carta de Intenções

A  Diretora do CAOP-MA, Promotora de Justiça Aidee Maria Moser Torquato Luiz, coordenadora do evento, ressaltou a relevância do seminário, acrescentando que a participação de representantes de países estrangeiros no evento deverá auxiliar na definição de ações em Rondônia. “Tanto Peru, Bolívia como Estados Unidos têm experiências que deram muito certo com relação a pescadores afetados por hidrelétricas. Como aqui temos uma demanda muito grande de populações que realizam essa atividade e que foram afetadas por empreendimentos hidrelétricos, resolvemos fazer esse encontro para uma troca de experiência”, disse, fazendo menção, ainda, às hidrelétricas binacionais, cujos estudos de construção estão em andamento.

A Integrante do MP rondoniense também mencionou a elaboração de uma carta de intenções, ao final do evento. O documento deverá ser encaminhado ao Ibama e à Aneel para que as práticas exitosas desses países sejam incorporadas nos estudos.

A solenidade de abertura do Seminário Internacional Brasil, Peru, Bolívia  também teve a presença do Presidente da Associação do Ministério Público de Rondônia (Ampro), Promotor de Justiça Alexandre Jésus de Queiroz Santiago.

São parceiros da iniciativa a Associação do Ministério Público de Rondônia (Ampro); Unir; Ecoporé; Wild Life Conservation Society; Grupo Caparari; Museu de História Nacional; NSF.; Capes; Rede de Barragens Amazônica; Universidade da Flórida.


Fonte: Ascom MP/RO

 

Pesquisadores alertam para redução de 74% na captura de dourada, após usinas do Madeira